terça-feira, 16 de março de 2010

Portugês

O CATADOR
Por Manoel de Barros
Um homem catava prgos no chão.
Sempre que encontrava deitados de cumprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais- o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inútes da humanidade.
Ganhavam o privilégio do abandono.
O homem pensava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania do Ser mais do que Ter.

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